O que posso fazer para me sentir mais motivado a realizar os meus objetivos?

Já aqui falamos de alguns dos fatores relacionados com a saúde mental nos jovens, que contribuem para a diminuição do bem-estar, surgimento de perturbações psicológicas e falta de motivação e autonomia dos jovens estudantes do ensino superior.

Percebe-se a complexidade do problema multidimensional e fatorial, para o qual não existe uma solução imediata e eficaz para o resolver e, por isso, interessa-nos compreender como vão os jovens, atualmente, ultrapassar os constrangimentos que vivem, de maneira a serem pessoas e profissionais saudáveis, felizes e realizados.

Primeiro, devemos começar por reconhecer que as gerações de jovens foram mudando significativamente devido a todas as mudanças a que fomos assistindo globalmente, a nível social e económico.

Por um lado, os Millennials (Geração Y, nascidos entre 1981 e 1996) acabaram por viver uma era de maior competitividade académica e económica, em que um número significativo de jovens teve acesso a qualificações elevadas e sobre os quais se depositava grandes expetativas profissionais. Os seus objetivos prenderam-se com criar valor e ter impacto positivo na sociedade, onde a diversidade, flexibilidade e inclusão são palavras de ordem.

Por outro lado, os jovens da Geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) passaram a crescer rodeados de tecnologia, conetividade digital, em que a presença progressiva online e nas redes sociais tem consequências na forma como constroem uma imagem de si mesmos, do mundo e das relações, vendo a aprendizagem contínua como um ponto importante para os objetivos que ambicionam alcançar.

Já os Nativos Digitais, como o próprio nome indica, nasceram e cresceram na era digital e, por isso, as consequências da exposição precoce e excessiva às tecnologias interferem nas suas características de foco, atenção e concentração, e na forma como lidam com abordagens e métodos educativos que, em muitos casos, ainda não foram atualizados face à realidade em que vivemos, gerando desinteresse e desmotivação pelos temas ou contextos em que estão presentes.

Apesar de se verificar um aumento muito significativo de jovens estudantes que revelam precisar de ajuda, as dificuldades económicas que se agravaram nos últimos tempos, e que vêm crescendo para muitas famílias (agravadas pela crise na habitação e subida do custo de vida), não facilitam a procura de profissionais qualificados para resolver as problemáticas psicológicas mais dominantes. Para além disso, apesar de, após a pandemia da covid-19 se falar mais da importância da saúde mental e do apoio psicológico, e desta percepção se estar a alterar, ainda está presente o estigma e vergonha pela procura de ajuda (V. da Conceição, Mesquita, E. & Gusmão, 2024).

Muitos jovens, após ingressarem no ensino superior, sentem-se perdidos pela sobrecarga excessiva de aulas e trabalhos que têm de realizar, bem como pela pressão relacionada com o seu sucesso académico, que, muitas vezes, não consegue acompanhar o nível de desempenho alcançado no ensino secundário.

Um inquérito de âmbito nacional, realizado pelas Associações e Federações Académicas, indica que mais de metade dos jovens (55%) refere que a sua saúde mental piorou significativamente em relação à situação pré-pandemia, e 38% viram o seu desempenho académico diminuir em função disso. Da mesma forma, mais de metade, revelam sintomas de problemas do foro mental graves e 28% teve necessidade de tomar medicação. Não obstante a estas dificuldades, apenas 17% referiu ter procurado ajuda, até porque a maior parte (62%) não conhece as soluções de apoio psicológico ou psiquiátrico disponibilizadas pelas instituições de ensino superior (IES).

Desta forma, é fácil perceber que, se temos jovens com problemas graves que não os resolvem atempadamente, isso irá impactar a sua motivação e os objetivos de carreira que definem a curto, médio e longo prazo. Tal terá, naturalmente, consequências graves para as empresas que veem os níveis de satisfação, produtividade, rotatividade e absentismo aumentarem consideravelmente.

Os casos de depressão e ansiedade, relacionados com sintomas como fadiga, falta de energia, medo do imprevisível, desânimo e baixo sentido de autoeficácia, resultam, muitas vezes, nas dificuldades de atenção e concentração, na desmotivação para as tarefas académicas e na indefinição de metas e objetivos pessoais e profissionais.

Tendo em conta a exigência crescente neste período de vida ao nível da gestão de tempo, pressão para cumprir prazos, gestão de expetativas e de resultados, sobretudo em períodos mais críticos como os de avaliação, muitas vezes, os jovens sentem picos de ansiedade, que se podem manifestar através de ataques de pânico, insónias, dificuldades em permanecerem nas tarefas e em se manterem estáveis emocionalmente, de forma a superarem as adversidades. Sentir alguma ansiedade é normal, o cenário torna-se preocupante quando os jovens não sabem como a controlar ou quando esta toma proporções preocupantes.

Desta forma, os dados de jovens que abandonam ou equacionam deixar o ensino superior são preocupantes. Inevitáveis são os impactos destas alterações ao nível dos relacionamentos, uma vez que a tendência é de isolamento social e, por isso, de menor suporte das redes de apoio, daí os casos poderem tornar-se mais graves por os jovens não procurarem ajuda ou não serem detetados os sinais por essas redes.

Algumas estratégias que podem ser desenvolvidas, de modo a alinhar o trabalho da motivação com a definição de objetivos profissionais:

Questionar: “Quais os meus objetivos de futuro? Que diferença quero fazer? Que mudanças quero desenvolver? Quais as causas que me movem?”.
Invista ao longo do ensino secundário e superior na definição e clarificação de interesses, valores e competências pessoais e de potencial de desenvolvimento no futuro, alinhado com objetivos pessoalmente significativos.

Pesquise e esteja consciente das atividades profissionais existentes, das suas características e especificidades, reconhecendo áreas de maior potencial no futuro que acompanhem as tendências tecnológicas, mudanças socioeconómicas e avanços na ciência.

Tenha presente que a realização e satisfação pessoal são multidimensionais e, por isso, vários fatores contribuem para a sua concretização.

O desenvolvimento de competências deve estar presente ao longo de todo o percurso académico e profissional, por forma a capacitar melhor os jovens para as escolhas de futuro e o desenvolvimento do seu potencial. A formação e desenvolvimento de competências devem ser contínuos e de acordo com as fases, contextos e objetivos de vida e profissionais.

As adversidades fazem parte do percurso de vida e profissional e, por isso, lidar com os constrangimentos é uma realidade que não é possível eliminar. Como já mencionado, o caminho passa por desenvolver competências que trabalhem a resiliência, adaptação à mudança e uma atitude positiva, de confiança que reforce a esperança em si e no futuro. Construir um sentimento de autoeficácia positivo (Azevedo, A. S., & Faria, L., 2006), não é fator único, mas é determinante para ajudar na concretização dos objetivos.

Procurar ajuda, opiniões e informações de pessoas credíveis, reconhecidas e que possam trazer valor à tomada de decisão. Ter um mentor, alguém que nos inspira e em quem confiamos e a quem recorrer para colocar questões, ouvir as suas experiências de vida e conhecer diferentes alternativas e pontos de vista, amplia o espectro de possibilidades, promove motivação e, por conseguinte, beneficia em muito a tomada de decisão.

Participar em eventos e experiências académicas que sejam enriquecedoras, não só irá desenvolver competências, como irá trabalhar a rede de apoio e relações (ex.: associação de estudantes, organização de eventos escolares, feiras de emprego e divulgação de oferta universitária, entre outras).

Não esquecer que ser bem sucedido na vida, não implica apenas a dimensão de trabalho e estudo, mas a aposta também noutras dimensões de vida. Quando uma não está bem, facilmente interfere negativamente com as outras. Fazer exercício físico, participar em eventos sociais e culturais de que goste, ter rotinas de sono, uma boa alimentação, são tudo fatores que podem ajudar, em muito, a ter e manter um equilíbrio entre as dimensões pessoal e académica/profissional, assim como uma vida física e mental saudáveis.

Focamos alguns pontos que julgamos cruciais para permitir que alguém construa um percurso pessoal e profissional significativos, mas naturalmente nada resulta de forma igual para todos e, por isso, é importante ir testando, reencontrar o que se gosta de fazer, apostar nisso e não desistir.
Como já indicado, é crucial conseguir identificar os fatores mais críticos para o desenvolvimento pessoal e profissional destes jovens com impacto no seu bem-estar e saúde mental e, consequentemente, também na realização dos seus objetivos académicos e profissionais.

Assim, a disponibilidade para serviços de aconselhamento psicológico com profissionais qualificados, de sensibilização e treino de estratégias para lidar com os desafios e problemas específicos desta fase, assim como grupos para trabalhar competências e promover o bem-estar destes jovens, é fundamental.

A Alento disponibiliza um corpo clínico na área de Psicologia Vocacional e Gestão de Carreira com larga experiência com jovens e famílias, capaz de apoiar no trabalho de todos os aspetos evidenciados anteriormente. Se precisar de ajuda ou mais informações, contacte-nos.