Quando o trabalho consome mais energia do que proporciona
Em algum momento da sua vida já se deve ter deparado com a palavra “burnout”. Nos últimos anos, tem sido referida pela comunicação social e por diversas pessoas da área da saúde mental, mas não só. Será uma coincidência?
Desde janeiro de 2022, a OMS reconhece os efeitos do stress crónico, causado pelo ritmo de trabalho, como parte de uma doença ocupacional que apresenta sintomas físicos e emocionais.
Em tradução livre do inglês para o português, a palavra BURNOUT significa “queimar até ao fim”. É como se pudéssemos imaginar um fósforo a queimar até ao fim, e sobrar apenas a madeira escura. Numa sociedade onde a cultura do trabalho duro é prevalente, o burnout tornou-se uma epidemia silenciosa, afetando trabalhadores em todos os setores e níveis hierárquicos.
No início do artigo, questiono se é só uma coincidência, o que não me parece. Quase todos os dias recebemos pedidos de marcação de consultas de pessoas que estão em exaustão emocional, cada vez mais ouço em consulta “não aguento mais, estou no meu limite”.
O pedido de ajuda geralmente chega numa fase em que a pessoa já não consegue dar resposta às solicitações do dia a dia, as brancas são mais comuns do que gostaria, nas reuniões as palpitações e a sensação de falta de ar surgem subitamente, o aperto na barriga e a boca seca também fazem parte da rotina. Chegar a casa e não ter vontade de voltar no outro dia, chorar, ao pensar que é injusto sentir-se dessa forma pois está a dar “200% à empresa”. Há uma inquietação genuína em pensar “porque me deixei chegar a este ponto”.
O que é a Síndrome de Burnout?
Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), o burnout ou síndrome de esgotamento profissional é “um tipo específico de stress ocupacional, ou seja, de stress provocado pelo trabalho. Caracteriza-se, sobretudo, pela exaustão emocional e pela diminuição do envolvimento pessoal no trabalho”.
Principais Causas do Burnout
Algumas pessoas tornam-se mais vulneráveis a desenvolver o burnout através da combinação de algumas características pessoais associadas ao ambiente laboral.
Características pessoais como:
- Perfecionismo, a procura constante pela excelência;
- Dificuldade em delegar tarefas;
- Empenho excessivo, com dificuldade em colocar limites;
- Baixa autoestima, pode-se sentir pressionado pelo trabalho para provar constantemente o seu valor.
Ainda, segundo a OPP, outros fatores podem contribuir para o desenvolvimento do burnout, como, por exemplo:
- Sobrecarga de trabalho;
- Falta de autonomia no trabalho;
- Falta de propósito na função/tarefa;
- Desajustes entre os objetivos pessoais e profissionais;
- Tarefas que exijam grande exigência emocional;
- Trabalhar por turnos;
- Jornadas de trabalho superiores a 8h;
- Fazer poucas pausas ou não ter pausas;
- Má relação com os colegas;
- Dificuldade em fazer uma boa gestão do equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho.
É relevante referir que as características por si só não garantem que alguém desenvolverá burnout, mas podem aumentar significativamente a probabilidade de que isto aconteça, especialmente quando combinadas com fatores de stress no ambiente laboral.
Como saber se estou numa situação de Burnout?
O CID-11 (International Classification of Diseases 11th Revision), indica três grandes dimensões que caracterizam o síndrome de Burnout que podem, de alguma forma, ser sinais de alerta para procurar ajuda especializada:
- Ter sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia – há um desgaste da empatia, uma diminuição de compaixão pelo outro;
- Aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados com o próprio trabalho – não consegue sentir-se realizado com o trabalho que faz, começa a avaliar o trabalho mais negativamente;
- Redução significativa da eficácia profissional – há um menor envolvimento no trabalho.
Para além destes, podemos acrescentar:
- Sintomas físicos como: dores de cabeça, tensão muscular, alterações no sono, fadiga, entre outros;
- Sintomas cognitivos como: dificuldades de manter a atenção e a concentração, dificuldades de memória, diminuição do autoconceito, da autoconfiança, da autoimagem e da autoestima;
- Sintomas emocionais: tristeza, irritabilidade, perda de controlo emocional, desânimo, apatia, humilhação, revolta, mágoa, fúria, preocupação e outros;
- Alterações comportamentais como: aumento do uso de substâncias como o tabaco e o álcool, por exemplo, isolamento social e/ou alguma rispidez, tendo impacto no bem-estar das relações sociais e na vida familiar;
- Menor bem-estar e satisfação com a vida no geral.
Por isso, o burnout não acontece de um dia para o outro, é um acumular de situações que se não forem bem geridas podem levar a pessoa a um esgotamento, um estado que, muitas vezes, necessita de ajuda profissional para poder sair do ponto em que se encontra.
Como prevenir o Burnout?
É crucial reconhecer os sinais precoces de burnout e trabalhar com a prevenção é sempre um bom caminho. Para fazê-lo é preciso investir em estratégias que aumentem o autocuidado e que reduzam o stress e a tensão no trabalho, como, por exemplo:
- Participar em atividades que sejam fontes de prazer, como um jantar com amigos, um passeio no parque com a família, etc.;
- Praticar atividade física;
- Conversar sobre o que está a sentir, e dar nome aos sentimentos, por exemplo “hoje estou a sentir-me exausto”;
- Evitar o consumo de álcool e outras substâncias que podem de alguma forma provocar maior confusão mental;
- Evitar consumir cafeína, pois pode intensificar ainda mais o stress;
- Reconheça as coisas boas, por exemplo, anote uma coisa boa que aconteceu no seu dia e seja grato/a por isso;
- Conectar-se consigo mesmo através da meditação.
Cada pessoa é um mundo e cada “mundo” tem de descobrir o que funciona melhor para si. Sempre que sentir que está significativamente mal, exausto e isso está a ter impacto no seu funcionamento normal, peça ajuda a um psicólogo/a.
Como tratar o Burnout?
O tratamento do Burnout é feito através de consultas de Psicologia, e em alguns casos é necessário um tratamento combinado (psicoterapia + medicamentos).
A ALENTO SAÚDE disponibiliza uma equipa de psicólogos especialistas, que através da psicoterapia podem ajudar numa melhor compreensão do burnout, promovendo ainda a aquisição e o treino de estratégias para minimizar os sintomas que a pessoa apresenta. Será muito importante as mudanças nas condições de trabalho, rotina, hábitos e estilo de vida.