Falar sobre sexualidade e prazer no feminino é hoje bem diferente do que seria há algumas décadas. Para as mulheres, que viam a sua sexualidade ser reprimida e estigmatizada em sociedade e até assumida como propriedade do homem, a evolução do seu papel na sociedade proporcionou mudanças significativas na forma como se olha e compreende a sexualidade no feminino.
Com os movimentos feministas, a luta pela igualdade de género e direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, foram sendo postos em causa os estereótipos tradicionais de género, que viam a mulher como figura com papel reprodutivo e dependente do homem para a sua subsistência, já que não trabalhava e ficava a cuidar da casa e da família. Isto veio a alterar-se com a integração como força de trabalho na sociedade, tornando-se assim mais independentes economicamente.
Assim, com o empoderamento das mulheres e um maior acesso a informação sobre saúde reprodutiva e educação sexual, foi-lhes permitido ganhar mais autonomia e capacidade de decisão sobre as suas vidas, as suas carreiras e, por conseguinte, sobre o seu corpo. A sociedade passa, também, lentamente a reconhecer e respeitar mais a mulher, a sua sexualidade e a sua autodeterminação nas questões de maternidade.
O impacto da revolução sexual
Um fenómeno com grande impacto nesta mudança foi a Revolução Sexual da década de 60, em que a sexualidade é encarada como parte integrante da vida e são assumidos novos códigos de comportamento sexual, nomeadamente no uso da pílula como anticontracetivo. Uma das partes determinantes está relacionada ao rompimento com uma série de estigmas e tabus associados à sexualidade, nomeadamente do prazer no feminino, assumindo que este pode ser vivido de forma mais livre e diversificada.
Ter maior poder sobre a sua sexualidade e prazer implica maior informação e conhecimento da mulher sobre si própria, o seu próprio corpo, bem como por parte da sociedade de uma forma geral, para que se continue a evoluir no sentido de se falar de desejo e prazer das mulheres de forma mais aberta e inclusiva. Importa olhar, falar e perceber a sexualidade como parte integrante da vida e com um papel relevante no bem-estar e qualidade de vida e, por isso mesmo, também reconhecer a diversidade de identidades, preferências, desejos, de relações e de prazer sexuais, sejam estes sozinha ou com parceiro/a sexual.
Como aumentar o prazer feminino?
Existem alguns fatores que parecem determinantes para uma vivência sexual ativa e saudável e para aumentar o prazer sexual da mulher. Não obstante, os diferentes fatores podem variar entre mulheres e, por isso, olhar para cada caso de forma individual e, se for preciso, com ajuda profissional na área da sexologia pode ajudar muito a tornar a experiência mais positiva e significativa.
Vamos abordar alguns de seguida:
Autoconhecimento
Conhecer-se, explorar-se e ao seu corpo de forma a saber o que gosta e deseja é um passo importante para conseguir aumentar o seu prazer e, quando for o caso, conseguir comunicá-lo ao outro/a, de forma a que este também o possa fazer.
Ligação emocional com o/a parceiro/a
Uma das componentes essenciais do prazer feminino está muitas vezes associada à ligação emocional desenvolvida com o/a parceiro/a, em que a valorização, cuidado e afeto em relação à mulher tornam a experiência e a satisfação sexual maior. Gostar de si primeiro e auto cuidar-se é essencial. Numa relação a dois, a troca de afeto como beijos, carícias e abraços pode melhorar a satisfação sexual.
A Alento Saúde disponibiliza também um corpo clínico na área de Terapia de Casal, capaz de auxiliar o casal a identificar padrões de comportamentos disfuncionais que possam estar a causar dificuldades no relacionamento.
Autodeterminação
Uma maior autodeterminação das mulheres relativamente à sua autonomia nas escolhas que fazem para a sua vida sexual é muito relevante, bem como a importância do consentimento mútuo nas interações. A mulher não tem (como antigamente se pensava) que estar sempre disponível para as interações sexuais pretendidas pelo seu parceiro.
Intimidade
A intimidade é um aspeto fundamental em todas as relações e é crucial para que a conexão emocional seja de qualidade e respeitadora dos desejos e necessidades de ambos. Para tal, comunicar sobre o que se sente, se gosta e se precisa é muito importante.
Hábitos saudáveis na saúde mental e sexualidade
Ainda que nem sempre percebamos a ligação que têm alguns dos nossos comportamentos no nosso bem-estar, estar atento a essa influência pode fazer toda a diferença. Uma boa alimentação, sono e exercício físico farão com que reduza os níveis de ansiedade e de stress e que esteja mais relaxada e, por isso, permitem que o corpo esteja mais preparado para tirar partido das suas experiências sexuais e para ter mais prazer.
Também o stress laboral e o burnout podem ter influência na predisposição e desejo sexual. Depois de sair do trabalho, faça por desligar e priorize o seu tempo e o seu bem estar. Adotar hábitos que permitam alcançar um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é muito importante para manter o seu bem estar mental e físico.
Mudar a rotina
Todas as relações precisam de ser alimentadas de forma a não caírem numa rotina desinteressante para uma das pessoas ou ambas as partes. Existem diversas formas de explorar, sozinha ou enquanto casal, de forma aberta, o potencial da interação e desejo sexuais, através de diferentes posições, estimulações e fantasias.
Compreender a fisiologia do prazer
Existem diferentes corpos e a fisiologia do prazer não se assume igual para todas as mulheres, mudando esta também com a idade. Há casos em que a excitação e lubrificação da mulher se dão com estímulos e intensidades diferentes. Conhecer as formas de melhorar a resposta fisiológica – aumentar fluxo sanguíneo nas zonas erógenas (clitóris e lábios vaginais) e genitais – pode aumentar o prazer sexual (e.x.: estimulação clitoriana, uso de brinquedos sexuais, etc.) e, consequentemente possibilitar alcançar o orgasmo. Com o orgasmo dá-se a libertação de endorfinas, neurotransmissores associados ao prazer e à sensação de bem-estar. Para além disso, ainda se pode dar a libertação de oxitocina – a hormona do amor – que promove sentimentos de bem-estar, relaxamento e conexão emocional.
Partilhar as nossas experiências
Encontrar formas de ser mais participativa, ouvir e partilhar mais sobre as suas histórias e experiências podem prevenir e ajudar a minimizar o impacto de alguns problemas ou experiências negativas ou traumáticas. Aqui, o papel da criação de diferentes plataformas e das redes sociais na globalização e facilitação da mobilização das mulheres acaba por ser muito relevante para o sentimento de que são ouvidas, reconhecidas e estão a construir mudanças sociais e culturais em torno destes temas.
Este empoderamento é, também, da sua sexualidade.
A sexualidade feminina é compreendida?
Como já percebeu, a psicologia tem muito a dizer no que respeita à forma como é vivida a sexualidade. As expetativas e crenças em relação ao prazer e ao sexo têm forte impacto, a autoestima e as emoções positivas ou negativas, bem como a segurança do contexto emocional em que está inserida, também podem influenciar, e muito, a experiência de prazer sexual.
Se é verdade que já se fez muito caminho no sentido de uma maior progressão e compreensão da sexualidade feminina, continua ainda a haver um grande trabalho a fazer no processo de emancipação das mulheres. Muitas mulheres continuam a enfrentar grandes desafios de discriminação de género e no acesso que têm às mesmas oportunidades que os homens, na forma como é escrutinada a sua imagem e corpo, sobretudo quando passa por mudanças significativas como a maternidade e o envelhecimento e, ainda, no flagelo de violência doméstica contra mulheres em Portugal. Para uma sociedade mais progressista e inclusiva, a luta por maior igualdade de género e menos disparidade na perceção sobre direitos sexuais de género tem de continuar a existir.
Percebendo toda a complexidade e multifacetada vivência dos diferentes papéis das mulheres na sociedade, é compreensível, e até expectável, que sintam que, muitas vezes, é difícil dar resposta a tudo, se sintam mais isoladas ou com mais dificuldade de fazer valer os seus sonhos e desejos, na vida de forma geral e na sexualidade de forma particular.
Se sentir que gostaria de trabalhar e melhorar a relação que tem com o seu corpo, a sua sexualidade ou a relação com o outro, pondere recorrer a ajuda profissional e marque uma consulta de Sexologia Clínica, em que de forma aberta e confidencial, são abordados todos estes fatores.